Visão do Correio: Festa de oportunidades

Marca registrada do Brasil, o carnaval já está tomando conta do país. A festa, que este ano oficialmente acontece no começo de março, cada vez mais mobiliza foliões de diversas partes do território nacional. Setores importantes da economia são impulsionados, como comércio, transporte, segurança e turismo. Esse último, especialmente, tem uma oportunidade que não pode ser desprezada.

De cidades de pequeno porte a metrópoles, as ruas são ocupadas durante o feriado por turistas, num movimento que inspira as prefeituras na conquista do interesse de potenciais visitantes. Sem contar os próprios moradores, que se animam a sair para as ruas e podem ser despertados para possibilidades locais antes ignoradas.

No quesito público estrangeiro, presença constante no evento, uma atenção especial. Merece ser valorizado como potencial chance de negócios futuros. Hotéis, restaurantes, bares e lojas lucram durante a festa e ainda têm muito a ganhar nos meses seguintes.

Em 2024, o índice de atividade turística foi positivo no Brasil. Segundo levantamento realizado pelo Ministério do Turismo, os investimentos diretos na área vindos de fora atingiram a marca de US$ 360 milhões — um aumento de 40% em relação a 2023, quando o país recebeu US$ 257 milhões. Ainda de acordo com dados divulgados pela pasta, a intenção dos brasileiros de viajar pelo país apresenta crescimento considerável.

Para transformar toda a vocação do turismo em crescimento constante é preciso, além de não desperdiçar a propaganda que acontecimentos como o carnaval oferecem, avançar na resolução de questões cruciais, como infraestrutura e segurança, e apresentar atrativos ao público. Passadas as festas, é comum serem apontados nos balanços feitos pelos foliões problemas como falta de banheiros públicos, dificuldade nos deslocamentos entre os blocos e deles para casa ou outros pontos e sensação de insegurança.

Opções de transporte que privilegiem a logística e o conforto são fundamentais. Limpeza dos municípios, policiamento, espaços públicos de lazer bem cuidados são pontos a serem melhorados pelos governos municipais — se possível, em colaboração com as esferas estaduais. As empresas também possuem seu papel na qualificação permanente dos serviços prestados, fator essencial para o sucesso desse tipo de segmento.

No mês de abril, em Brasília, está prevista a IV Marcha dos Secretários de Turismo, uma realização da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Turismo (Anseditur). Sob o tema “Construindo o futuro do turismo”, gestores públicos e profissionais vão debater políticas, tendências e estratégias para o desenvolvimento sustentável dos negócios. O encontro é propício para análise e discussão dos resultados do carnaval, pensando no cenário que pode ser explorado a partir da folia. O que parece ser apenas diversão é um relevante caminho de expansão do setor.

Evidente nos desfiles dos blocos e das escolas pelas ruas, a diversidade cultural e paisagística do Brasil precisa ser explorada durante o evento para render frutos contínuos. Pautas como sustentabilidade e turismo consciente atraem os visitantes e devem aparecer nos dias de carnaval. Cabe aos prefeitos, governadores, empresários e investidores ficarem atentos às possibilidades.

A festa momesca é um cartão de visita para “fidelizar” o turista que já participa, assim como para conquistar quem vê pela televisão ou por outros meios de comunicação e redes sociais. Direcionar as ações necessárias para a promoção dos variados destinos pelo país é exercício que deve ser feito e refeito ano após ano. Se o Brasil é “o país do carnaval”, que seja lembrado pela beleza da festa, organização e oportunidades.

Sol, cultura, brasilidade e diversão, a melhor receita para ficar de bem com a vida!

Sol, cultura, brasilidade e diversão, a melhor receita para ficar de bem com a vida! (Rio de Janeiro (Imagem: Victoria/ Pixabay))

Estamos a 14 dias do carnaval e já passou da hora de escolhermos onde, como e com quem passaremos a primeira grande festa popular do ano! Se no ano passado boa parte dos feriados passou despercebida por cair durante o fim de semana, fique ligado, porque em 2025 a grande maioria das datas comemorativas será em dias úteis, com a possibilidade de serem emendadas no famoso feriadão.

A vida passa muito rapidamente, todos os dias assistimos em todas as mídias, as tragédias às quais o mundo nos expõe! Não temos tempo para muito sofrimento, a vida é bela e merece ser bem vivida, só temos uma chance. Por isso, siga o conselho do mestre compositor e “deixe a vida te levar”!

Sabemos que já temos um séquito de viajantes assíduos, mas maior ainda, é o número de pessoas que desejam realizar pelo menos uma boa viagem no ano!

Não perca tempo e se prepare para os feriados

Olho no calendário do primeiro semestre e admita, os primeiros meses de 2025 guardam excelentes oportunidades para todos nós.

Ouvindo uma especialista do setor de viagens, Patrícia Guedes, fundadora do site Passagens imperdíveis, me abriu os olhos, dizendo o seguinte, “Todo o setor de turismo já se prepara para altas demandas em 2025. Sem dúvida, as ofertas de passagem, hospedagem e pacotes completos estarão a preços bem competitivos para atrair o máximo de turistas”.

Foto: Fabricio Macedo Fabrício/ Pixabay

E é assim mesmo que funciona! Se não abrirmos os olhos, nossa rotina de “casa – trabalho – dorme – acorda – trabalho – casa….” vai roubando o nosso tempo e deixamos de perceber, que podemos e devemos aproveitar tudo que o Brasil nos oferece em termos de opções culturais, festas populares, tradições religiosas, folclore e as comemorações de massa!

Patrícia Guedes, ainda destaca, que existem diferentes experiências possíveis de se aproveitar em um curto período. “Somente no primeiro semestre serão oito datas, praticamente todas com a possibilidade de serem emendadas com o fim de semana”.

E vou além, percebam, que para nós brasileiros, outra grande vantagem é que o período, o primeiro semestre, terá duas estações distintas, o verão, ideal para quem quer aproveitar praias, cachoeiras e destinos mais tropicais e pular bastante o carnaval; e o outono, que traz temperaturas mais amenas, o friozinho chegando, excelente para a realização de trilhas, turismo urbano ou regiões montanhosas.

Nossa intenção com o conteúdo de hoje, é alertar o nosso leitor para se programar! Seja qual for o destino, o primordial é pesquisar, planejar e fazer o seu investimento com antecedência. É com este comportamento, que você garante sua diversão e certamente economiza e otimiza o seu dinheiro.

Como dizem nas redes sociais, “segue o fio” e entenda do que estou falando.

Começamos com o Carnaval! Nem precisa gostar da folia, mas descansar a mente também faz parte das coisas boas da vida. Com ponto facultativo nos primeiros dias de março o Carnaval oferece destinos clássicos para quem quer aproveitar a folia, como as Cidades Históricas de Minas, Rio de Janeiro, Salvador e Olinda.

No entanto, para quem prefere paz e sossego, é possível descansar muito aproveitando as paisagens da Chapada dos Veadeiros em Goiás ou dos muitos destinos no interior de Minas Gerais e São Paulo.

Logo ali, em abril, três feriados! Serão celebrações com ligações religiosas e históricas. Minas Gerais é destino principal neste período.

De cara, no dia 18, celebramos a Sexta-feira Santa, a paixão de Cristo; no domingo, a festa da Páscoa; e na segunda-feira, 21, a inconfidência Mineira, celebrando a memória do mártir Tiradentes e relembrando umas das mais efervescentes passagens históricas de nosso país. Vale pensar em uma viagem mais longa e contemplativa em destinos como as cidades históricas de Ouro Preto, Tiradentes, Diamantina e muitas outras em nosso estado.

No mês seguinte, maio já começa com um feriado no primeiro dia do mês, com a data dedicada aos trabalhadores e bem em uma quinta-feira! Aí o fim de semana, fica ideal para descansar da correria e do cansaço do dia a dia. Neste contexto, as praias do Nordeste, como Porto de Galinhas (PE) e Morro de São Paulo (BA), ou do Sudeste, como Ipanema (RJ) e Ubatuba (SP), são ótimas escolhas, com chances de bate-volta a baixo custo se planejadas com antecedência.

Junho, além das festas juninas com muitos feriados religiosos regionais, o mês tem um feriado nacional no dia 19, a celebração de Corpus Christi e em uma quinta feira. Se planejar direitinho, dá até pra pensar no caso!

Além das datas de cunho religioso e mais tradicionais, em junho é possível aproveitar o início do inverno e as baixas temperaturas em lugares como Campos do Jordão em São Paulo ou desfrutar do friozinho e da gastronomia nas serras de Gramado no Rio Grande do Sul e nas charmosas cidades do Sul de Minas Gerais.

Planejamento é fundamental

Viram, são muitas as oportunidades, no entanto, o planejamento antecipado é fundamental para garantir os melhores preços e maximizar a experiência em cada destino escolhido.

Para se divertir, é preciso planejamento, mas isso não custa nada. Organizem suas agendas com antecedência e explorem lugares incríveis aproveitando as datas comemorativas.

Agora, como eu gosto muito de curtir o melhor do carnaval, trago aqui para os mais sossegados, um apanhado de 10 destinos no Brasil para quem quer descanso e tranquilidade.

Eu e boa parte dos Brasileiros se prepara para mais um Carnaval com blocos, desfiles e festas espalhadas por todo o país, mas sabemos que há quem prefira aproveitar o feriado prolongado de forma diferente, buscando sossego e contato com a natureza. O Brasil oferece uma infinidade de destinos ideais para se desconectar da agitação da folia.

Serra do Cipó (Foto: Canva)

Começamos por Minas Gerais! A Serra do Cipó, localizada a poucos quilômetros de Belo Horizonte, é um refúgio para amantes da natureza. Cachoeiras cristalinas, trilhas e paisagens encantadoras garantem o destino ideal para quem busca silêncio e ar puro.

Um pouco mais distante, Monte Verde, distrito de Camanducaia, é ideal para casais que procuram um refúgio romântico. Clima agradável e pousadas encantadoras, o local combina beleza natural e tranquilidade.

Já no Centro Oeste brasileiro, no coração de Goiás, recomendo a Chapada dos Veadeiros. Lá é garantido encontrarmos um cenário deslumbrante com cânions, formações rochosas e cachoeiras. Além disso, a energia mística do lugar te leva para um outro patamar de paz e harmonia para levar com tranquilidade, o restante do ano!!

No Paraná, a dica é a Ilha do Mel. Confesso que ainda não conheço, mas todos garantem, que a ilha, é o lugar perfeito para quem quer relaxar. Imaginem um lugar sem carros e com praias preservadas!! Diferente não é mesmo?

Já no Rio de Janeiro, temos também, mas é a Ilha Grande, com praias paradisíacas e muita área verde. Uma boa alternativa para quem quer escapar do agito da folia e dos grandes centros. O clima rústico e as trilhas ecológicas são um convite ao descanso.

Ainda em terras cariocas, Paraty, com seu centro histórico charmoso e cercado por montanhas e mar, é uma opção tranquila e cheia de cultura para o feriado. Aproveite os passeios de barco e visite as cachoeiras, são imperdíveis!

Já citei antes, mas vale reforçar, Campos do Jordão, em São Paulo. Conhecida pelo clima ameno mesmo no verão, a cidade oferece charme e aconchego. A arquitetura europeia, as pousadas acolhedoras e os bons restaurantes garantirão uma experiência tranquila e sofisticada. Pode confiar!

E se quiser ir ainda mais distante, recomendo o paraíso, os Lençóis Maranhenses! Os Lençóis Maranhenses são um ótimo destino para o Carnaval. As lagoas ainda podem ser vistas e o cenário de dunas é deslumbrante.

Tem ainda a Chapada Diamantina, na Bahia. A Chapada reúne cachoeiras imponentes, grutas e trilhas que atraem aqueles mais aventureiros. Descanso garantido!

Amazônia (Foto: Canva)

E na Região Norte, que eu tanto gosto e destaco por aqui sempre que posso, chega a vez da Amazonia! Para quem deseja uma experiência única, a Amazônia oferece ecoturismo em meio à maior floresta tropical do mundo. Sem falar dos passeios de barco, a oportunidade de avistar os animais e se hospedar em lodges. De fato, esta é uma conexão profunda com a natureza.

Como disse, isso tudo demanda planejamento, organização e estratégia. Eu sei perfeitamente, que não dá pra ficar saindo em todos os feriados, mas vale escolher as melhores datas, para cuidar do seu descanso, seu lazer e sua diversão!

Passagens imperdíveis

Hoje em dia, está cada vez mais fácil viajar. Temos os agentes de viagens que nos ajudam, mas temos também outras tantas ferramentas na internet, que nos ajudam a encontrar boas oportunidades com preços acessíveis e dentro do nosso orçamento.

Compartilho com vocês a novidade da vez para mim! Descobri um site, o passagens imperdíveis, que se tornou a referência na divulgação de promoções de passagens aéreas e turismo. A inovação, a meu ver, foi o lançamento do primeiro aplicativo com aviso ativo de promoções em tempo real. Isso facilita muito a nossa vida, quando estamos dispostos a planejar nossos passeios.

Em 2025, como bons viajantes que somos, não dá mais para não estarmos conectados com as melhores oportunidades de viagens, com facilidade e estratégia.

Eu acredito nos achados da internet, porque neste caso específico e como sou muito precavido, a credibilidade do “passagens imperdíveis” é reforçada, por já ter divulgado grandes empresas como Gol, CVC, Booking.com, ChilliBeans e Burger King, ampliando o alcance e a oferta de benefícios exclusivos para seus usuários.

É bom destacar, que é uma dica de quem gosta de viajar, mas enfatizo, que o “Passagens Imperdíveis”, não é uma agência, que vende passagens. A sacada é o monitoramento e o compartilhamento das informações e dicas sobre viagens, direcionando as informações para onde estão as possibilidades de promoções!

Daí, só nos cabe aproveitar, não é mesmo!

No mais, a quem possa interessar, este ano, começo meu Carnaval aproveitando o início da folia, na região de Carajás no Pará, conhecendo um pouco dos festejos em Parauapebas, passo em Curionópolis, que promete um carnaval cultural e rico em tradições regionais e depois, caio em Minas Gerais, aproveitando toda a festança, que está sendo preparada nas Cidades Históricas do Estado.

E você, animou a planejar seu semestre de festas? Fique atento, planejamento e organização, são sinônimos de qualidade e economia no turismo!

Até a próxima e boa viagem! Feliz Carnaval!

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Artigo: Como a alta dos juros impacta o acesso à educação?

Nivio Lewis Delgado*

O acesso ao ensino superior no Brasil registrou o maior crescimento dos últimos dez anos em 2023. Nesse período, o número de matrículas nas redes pública e privada subiu 5,64% — avanço impulsionado pelo incremento do volume de estudantes nos cursos de ensino a distância (EAD). Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior.

Embora positivo, o resultado ainda é insuficiente, frente ao potencial de aumento de ingressantes. A mesma pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que apenas 21% dos alunos que concluem o ensino médio na rede estadual entram para a universidade no ano subsequente. Mas, afinal, por que isso acontece?

Poderíamos elencar diversos motivos para justificar esse descompasso, como a falta de informação sobre as formas de acesso, a aposta no empreendedorismo, dinâmicas em sala de aula incapazes de capturar a atenção dos universitários, e dificuldades para conciliar estudos e trabalho. Quero, contudo, debruçar-me sobre a razão apontada como a principal por pesquisa recente da Deloitte: restrições financeiras. Mensalidades que não cabem no bolso do estudante e a disputa acirrada por vagas em universidades públicas acabam por distanciar o jovem do tão sonhado curso de graduação.

A necessária elevação da taxa básica de juros, anunciada recentemente pelo Banco Central (BC), representa um desafio adicional nesse contexto. A alta da Selic para 13,25% ao ano, no intuito de combater a desancoragem das expectativas de inflação, influencia diversos setores da economia, entre eles, o da educação. E já há novos reajustes previstos para março de 2025. Quando a Selic sobe, o aumento do custo de capital para as instituições de ensino tende a dificultar ainda mais a realização de suas missões educacionais. Com uma economia mais apertada, também é factível que haja maior evasão, tendo em vista a dificuldade de alguns alunos para honrarem o pagamento do curso.

Diante desse cenário, o crédito educacional, em que o aluno entra para a universidade e restitui o valor total das mensalidades somente após a conclusão do curso, funciona como uma alternativa que contribui para a manutenção e o crescimento de matrículas no ensino superior. Há opções no mercado que dispensam a cobrança de juros remuneratórios, ou seja, que não tomam a Selic por parâmetro. Esse tipo de solução funciona há décadas e vem garantindo acesso a milhares de pessoas — promovendo a inclusão educacional e produtiva de jovens que concluem o ensino médio em escolas públicas.

Dados apontam que o Brasil é um dos países com a pior taxa de produtividade entre 67 economias no mundo. Em 2024, caiu duas posições no ranking divulgado anualmente pelo Institute for Management Development (IMD), passando a ocupar o 62º lugar. Não por coincidência, o país mais bem avaliado, Singapura, é também o que lidera a nota no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), ou seja, investir em educação é apostar em desenvolvimento e competitividade, a partir do aumento da produtividade per capita.

A relação entre estudo e inclusão produtiva é evidente. Em 2023, 24% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos de idade não estudavam nem trabalhavam. A situação é pior do que em boa parte dos países desenvolvidos, conforme levantamento divulgado neste ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O relatório aponta a formação acadêmica — ou a falta dela — como um dos fatores determinantes na hora de conseguir um emprego, reforçando mais uma vez essa tese.

Para superar esse desafio, é imprescindível que, para além das soluções de crédito privado, o país fortaleça investimentos em políticas públicas eficazes. Essas políticas devem priorizar a democratização do acesso ao ensino, a valorização dos professores, a ampliação de vagas nas universidades e a oferta de apoio financeiro contínuo a estudantes.

Somente por meio de um conjunto integrado de ações será possível diminuir a disparidade entre o número de jovens que concluem o ensino médio e aqueles que conseguem ingressar e concluir uma graduação. Não podemos deixar que o custo de capital aumente ainda mais o risco de sermos uma nação desigual em oportunidades e pouco produtiva em comparação a outros países, pelo baixo investimento em ensino. É tempo de acreditar — e de fazer acreditar — em alternativas, para que o Brasil volte a crescer pelas mãos da educação.

*Presidente da Fundacred

Visão do Correio: Escola sem celulares e sem traumas

Por vários meses, desde de 2024, o debate sobre a proibição de celulares nas escolas atraiu a atenção dos brasileiros. Mas a maioria dos adultos entendeu que o veto à telinha, no ambiente escolar, era medida necessária. Docentes de quase todas as etapas do ensino não tinham dúvida de que a medida seria essencial, assim como ocorreu em vários países, como Suécia, Suíça, Portugal, Espanha e Austrália. Em 14 de janeiro último, entrou em vigor a Lei nº 15.100, dispondo sobre a utilização, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis nos colégios públicos e privados de ensino da educação básica.

Para os educadores favoráveis à lei, o dispositivo móvel comprometia a concentração dos estudantes, o processo de aprendizagem e a interação social entre eles. As regras não são rígidas e abrem exceções, admitindo que o celular é necessário para garantir acessibilidade, inclusão, direitos fundamentais e atender às condições de saúde do estudante.

No Distrito Federal, a rede pública de ensino não permite ao aluno manipular o celular. Na rede privada, não há condescendência — os estudantes só voltam a ter contato com o celular após o término de todas as atividades. Um professor de escola particular, que não quis ser identificado, relatou ao Correio Braziliense que os alunos estão cientes da nova regra e até lembram a outros que não mexam em seus aparelhos, dentro e fora da sala de aula. Nas redes sociais, há vídeos em que os estudantes reconhecem que a separação temporária do celular eleva o grau de atenção e de aprendizado durante as aulas. Há, portanto, sinais de que a adaptação não será tão dolorida quanto muitos imaginaram.

Obviamente, haverá casos, em várias unidades de ensino, que se terá de recorrer à orientação descrita na lei. Uma delas é a de traçar estratégias para mitigar o sofrimento psíquico e preservar a saúde mental de crianças e adolescentes, que tinham aparelho quase como parte do seu corpo. Terão ainda que criar uma sala de escuta para estudantes ou funcionários em situação de sofrimento psíquico e mental, devido ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) conceituou como nomofobia, ou seja ansiedade, estresse ou desconforto resultante da falta de acesso pleno ao telefone celular e suas funcionalidades.

Embora a tecnologia seja uma conquista contemporânea, no campo da educação há alguns senões ante essa dependência. A Suécia, um dos países mais desenvolvidos e ricos do planeta, aboliu, em 2023, não só o celular mas também os notebooks nas escolas. Desde então, retornou ao ensino tradicional, com um investimento de 45 milhões de euros (R$ 242 milhões) em livros impressos e escrita à mão nos cadernos. “Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, advertiu a ministra da Educação, Lotta Edholm, após ver a nota do país despencar no Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), exame internacional que avalia o desempenho em leitura de estudantes.

Repensar a educação e como garantir o acesso de todos — crianças, jovens e adultos—, não só por meio das novas tecnologias, pode representar avanços significativos para melhorar uma sociedade e elevar o seu grau de desenvolvimento, em todos os sentidos.

Trump e Netanyahu dão ultimato ao Hamas

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, advertiu, ontem, o Hamas para as severas consequências se o ciclo de libertação de reféns for interrompido. “Se o Hamas não libertar nossos reféns até o meio-dia de sábado, o cessar-fogo terminará e (o Exército israelense) retomará os intensos combates até que o Hamas seja derrotado definitivamente”, alertou o premiê, em um comunicado. Em Washington, ao receber o rei Abdullah II da Jordânia, na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, renovou as ameaças ao grupo radical e insistiu que assumirá o controle da Faixa de Gaza.

Trump já havia ameaçado, na véspera, provocar um “inferno” em Gaza se os reféns israelenses não forem soltos, como estabelece a trégua em vigor desde 19 de janeiro. “Pessoalmente, não acredito que vão cumprir o prazo”, afirmou o presidente dos EUA, acrescentando: “Acho que querem fazer pose de durões, mas veremos se realmente são durões.”

O armistício interrompeu mais de 15 meses de conflito em Gaza e permitiu cinco trocas de reféns, capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, por prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Em resposta às declarações de Netanyahu e Trump, o Hamas cobrou respeito ao pacto firmado com Israel, que, segundo o grupo radical, não está sendo observado. “Trump deve lembrar que há um acordo que ambas as partes devem respeitar, e que essa é a única forma de fazer com que os prisioneiros retornem”, declarou Sami Abu Zuhri, um dos líderes do Hamas. “A linguagem das ameaças não tem nenhum valor e complica ainda mais as coisas”, frisou.

Com a trégua por um fio, o líder dos rebeldes huthis do Iêmen disse que retomará os ataques contra Israel em caso de uma escalada do conflito na Faixa de Gaza. “Estamos prontos para intervir militarmente a qualquer momento”, declarou Abdel Malek al Huthi em um discurso transmitido pela emissora de televisão Al Masirah, afiliada ao grupo.

O tom agressivo das declarações deixou a comunidade internacional em estado de vigilância. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu a libertação dos reféns e que se evite “a todo custo que as hostilidades sejam retomadas em Gaza”. Netanyahu não disse quantos reféns devem ser entregues.

Desde o anúncio do adiamento da libertação de cativos, na segunda-feira, Israel deixou as tropas em alerta, preparadas “para qualquer cenário”. No mesmo dia, o exército reforçou a presença militar na área do entorno do enclave palestino.

Ontem, familiares dos reféns se reuniram em frente ao gabinete de Netanyahu, em Jerusalém, com bandeiras israelenses e fotos de seus entes queridos. “Não podemos permitir outro impasse entre as partes. Há um acordo. Cumpram-no!”, disse Zahiro, cujo tio, Avraham Munder, morreu em cativeiro.

Em Gaza, Adnan Qasem, 60 anos, disse que estava rezando para que o cessar-fogo se mantivesse. “Não há garantias porque a facção governante em Israel quer guerra, e acho que também há uma facção dentro do Hamas que quer guerra”, disse ele, em Deir el Balah, no centro do território.

O acordo de cessar-fogo também foi abalado pela proposta de Trump de assumir o controle do território palestino e realocar seus mais de 2 milhões de habitantes para países da região, principalmente Egito e Jordânia. O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, pediu a reconstrução de Gaza “sem deslocar os palestinos”, depois que Trump ameaçou interromper a ajuda militar caso se recuse a receber os habitantes do enclave.

Sob pressão, o rei Abdullah II da Jordânia se reuniu com o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Mike Waltz, e com Trump, na Casa Branca, e disse que seu país está disposto a acolher cerca de 2 mil crianças com câncer de Gaza. “Acredito que é uma das coisas que podemos fazer. Isso é possível”, disse o monarca, que estava acompanhado do filho, o príncipe Hussein. Trump classificou a iniciativa como um “gesto bonito”.

Após o encontro, o monarca, em postagem nas redes sociais, reafirmou sua oposição à ida em massa de palestinos para seu país. “Ressaltei que meu compromisso principal é com a Jordânia, com a sua estabilidade e com o bem-estar dos jordanianos”, publicou.

O rei acrescentou que o Egito apresentará um plano sobre como os países da região poderiam “trabalhar” com Trump, apesar de as nações árabes e os palestinos terem rejeitado categoricamente a proposta do magnata. O assunto será debatido numa cúpula em Riade, capital da Arábia Saudita. “A questão é: como fazemos isso funcionar de uma maneira que seja boa para todos?”, questionou Abdullah.

Em três semanas de vigência, a trégua permitiu a libertação de 21 reféns, dos quais 16 israelenses, em troca de mais de 700 prisioneiros palestinos detidos em Israel. Pelo acordo, um total de 33 reféns israelenses devem ser soltos na primeira fase do armistício, que termina em 1º de março. O Exército israelense e o kibutz Kissufim anunciaram, ontem, a morte, em Gaza, do refém Shlomo Mansour, 86 anos.

A segunda fase, cujas negociações deveriam ter sido iniciadas esta semana, deveria resultar na libertação de todos os cativos e no fim definitivo da guerra, antes de uma etapa final dedicada à reconstrução de Gaza.

A recuperação e a reconstrução da Faixa de Gaza, devastada após 15 meses de guerra, vai demandar um investimento de mais de US$ 53 bilhões (R$ 306 bilhões), sendo mais de US$ 20 bilhões (R$ 115 bilhões) nos três primeiros anos, segundo estimativa da ONU publicada ontem. “Embora no contexto atual não seja possível avaliar plenamente a lista completa de necessidades que serão requeridas na Faixa de Gaza, essa avaliação parcial dá uma amostra inicial da escala considerável das necessidades no território”, assinala o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um informe elaborado a pedido da Assembleia Geral. Estima-se que os combates e bombardeios israelenses em Gaza tenham gerado “mais de 50 milhões de toneladas de escombros, sob os quais jazem restos humanos junto a munições sem explodir, amianto e outros elementos perigosos”.

Após tolueno, Cedae amplia monitoramento de rios que abastecem o canal Imunana-Laranjal para prevenir novas contaminações

A Cedae deu início à implantação de um sistema inédito de monitoramento ambiental nos rios Guapiaçu e Macacu, responsáveis pelo abastecimento do Sistema Imunana-Laranjal, que atende Niterói, São Gonçalo, Ilha de Paquetá, parte de Maricá e Itaboraí. Com um investimento anual de R$ 50 milhões, o projeto inclui sondas flutuantes, câmeras de alta tecnologia, drones e uma frota de veículos para ações de fiscalização em terra, água e ar.

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A medida surge em meio a uma crise ambiental que já dura quase um ano, marcada pela contaminação da bacia hidrográfica pelo composto químico tolueno. Essa substância tóxica, geralmente associada a atividades industriais e petroquímicas, foi identificada na área e, mais recentemente, voltou a ser detectada, ainda que em concentrações menores.

—A gente vive com essa preocupação. A água não tem mais a mesma cor, e o cheiro às vezes é diferente — conta Zeca Pereira, pescador há mais de 30 anos no Rio Macacu. Para ele, o monitoramento é uma boa notícia, mas ainda deixa incertezas: —Se eles não descobrirem de onde vem essa contaminação, como vão evitar que isso continue acontecendo?

Câmeras e drones para prevenir novos desastres

O gerente de qualidade da Cedae, Robson Campos, explica que o plano de contingência já está em operação:

— Desde 9 de janeiro, realizamos monitoramento aéreo diário de uma área de 70 km² com helicópteros e drones. Instalamos sete pontos de monitoramento ao longo dos rios Guapiaçu e Macacu. Qualquer alteração na qualidade da água será identificada em tempo real e reportada para um centro de controle provisório.

Entre os equipamentos instalados estão câmeras espectrais, uma tecnologia de ponta semelhante à utilizada pela Nasa. A câmera joga um feixe de luz na água e detecta o retorno, identificando cerca de 20 parâmetros físico-químicos.

— Nenhuma outra empresa de saneamento no Brasil possui essa tecnologia — afirma Campos.

A Cedae também está construindo um laboratório de última geração na Estação de Tratamento de Água (ETA) Laranjal, com previsão de inauguração para julho. O sistema conta com câmeras específicas para detectar detritos e mudanças visuais, como manchas de óleo, além de sondas flutuantes para medições constantes de turbidez, pH e outros parâmetros da água.

Comunidades rurais temem impactos no abastecimento

Embora a iniciativa traga esperança, produtores rurais da região ainda temem os impactos da contaminação.

—Já perdemos parte da plantação por causa da qualidade da água para irrigação — lamenta Ana Lúcia dos Santos, fazendeira em Cachoeiras de Macacu.

Segundo ela, o mistério sobre a origem do tolueno gera incerteza entre os agricultores:

— Não adianta só monitorar. A gente precisa de uma solução definitiva.

Para Alexandre Pessoa Dias, engenheiro sanitarista e professor pesquisador da Fiocruz, a preocupação das comunidades locais é legítima, já que a presença de tolueno na bacia hidrográfica continua sendo um mistério. Dias ressaltou a necessidade urgente de identificar a origem do contaminante.

—Todas as hipóteses precisam ser investigadas e descartadas ou confirmadas, seja contaminação por dutos da Petrobras, furtos ou vazamentos. Só assim poderemos afastar o risco de nova contaminação. O tolueno não surge naturalmente no ambiente. É fruto de uma ação humana. Precisamos encontrar a fonte dessa contaminação. Sem isso, o risco de novas crises permanece — alerta.

Ele também destaca a degradação ambiental da região.

— A bacia está completamente degradada, sem áreas reflorestadas nem matas ciliares. Isso precisa ser tratado com urgência pelo Estado. Sem reflorestamento e controle das atividades industriais no entorno, não há como garantir a qualidade da água — afirma.

Maurício Muniz, chefe do NGI Guanabara do ICMBio, reforça que atividades industriais na região devem ser controladas pelo poder público:

— O tolueno é um produto químico vinculado a atividades produtivas. O Inea e outros órgãos precisam prestar uma informação decisiva sobre a origem desse vazamento. Se apareceu em grandes volumes há um ano e agora reaparece, isso mostra que a investigação não foi conclusiva.

Reflorestamento e fiscalização como solução

A degradação ambiental da bacia hidrográfica também é motivo de preocupação. Segundo os especialistas, a poluição deixou a bacia completamente degradada. Não tem mais áreas reflorestadas nem matas ciliares. Renato Espírito Santo, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental elogia o projeto da Cedae, mas destaca que apenas a instalação de equipamentos não basta.

— É preciso manter o controle rigoroso de empresas que utilizam poluentes químicos e realizar inspeções periódicas para evitar despejos irregulares e criminosos —ressalta.

Diretor-presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon defende que, quanto melhor a qualidade da água captada, menor será a necessidade de produtos químicos no tratamento. E que esse sistema permite reações rápidas, além de criar uma base de dados confiável para análises ambientais de longo prazo.

A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), abriu um inquérito em abril do ano passado. Segundo a corporação, “imediatamente após as primeiras informações sobre uma possível contaminação, a polícia instaurou inquérito para apurar o que provocou a interrupção da captação de água da Estação do Sistema Imunana-Laranjal”.

De acordo com a nota, “segundo apurado, a hipótese mais provável é de vazamento. A perícia científica foi realizada e encontrou grande concentração de tolueno. A Polícia Civil, em conjunto com órgãos ambientais, realizou vistorias e percorreu grande área, identificando os locais com maior concentração do poluente. Agentes da Civil fizeram busca e apreensão em 17 empresas da região. Os mandados foram cumpridos por meio de uma grande força-tarefa, apenas 5 dias após os fatos. As diligências contaram com novas perícias e vistorias”.

A Polícia Civil informou que no decorrer do inquérito, os representantes legais e técnicos das empresas foram ouvidos e diversos laudos periciais foram analisados. No entanto, nenhum suspeito foi preso até agora. As investigações seguem em andamento.

Por nota, a polícia esclareceu que “é importante registrar que esta investigação auxiliou no aperfeiçoamento dos protocolos de fiscalização da DPMA. A especializada vem identificando todas as empresas que utilizam, compram ou vendem tolueno no estado do Rio de Janeiro e realiza vistorias permanentes para prevenir novos casos semelhantes”.

Futuro do monitoramento

Gerente de qualidade da Cedae, Robson Campos afirma que a expectativa é que o sistema de monitoramento seja expandido para o Sistema Guandu, responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana.

—Antes, monitorávamos apenas a captação. Agora, qualquer contaminação em toda a bacia será detectada rapidamente — garante Campos.

Enquanto aguardam por soluções definitivas, comunidades locais seguem em estado de alerta.

Governar para apenas 35% da população não traria déficit fiscal, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou sobre investimento em educação, nesta segunda-feira (10/2), e atribuiu gastos públicos à inclusão social. Ele ainda rebateu críticas sobre entregas na área e defendeu qualidade nas escolas públicas. A fala ocorreu durante a cerimônia de premiação do Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização, em Brasília.

“Era uma vergonha ter meio milhão de crianças que desistiam da escola para ajudar o pai e a mãe a colocar o feijão na mesa. Muitos governantes achavam isso natural. Porque esse país teve governante que achavam que o país deveria ser governado apenas para 35% da população”, iniciou o presidente, comentando sobre dados da evasão escolar no Brasil.

“Para governar para 35% da população não teríamos problema de orçamento, de déficit fiscal, porque ia sobrar dinheiro. Íamos governar para menos gente, com mais riqueza. Na hora que assumimos o compromisso de colocar todo mundo na mesa para comer, para tomar café, jantar, e resolve colocar toda criança, independe da origem, cor, da religião e time que torce, todos têm direito de ter uma educação plena como todas pessoas desse país”, acrescentou.

Lula, então, afirmou ter “orgulho” de ser “o presidente da República que mais investiu em universidade nesse país, em institutos federais”, mesmo sem ter um diploma universitário.

“Os adversários gostam e mentir através da internet, eu gosto de dizer com as palavras, olhando nos olhos de vocês. Em 100 anos, a elite brasileira que governou esse país, desde que D. Pedro chegou aqui, só fez 140 escolas técnicas. Nós, em menos de 15 anos, vamos entregar 782 institutos federais para qualificar o Brasil na sua disputa no mercado internacional”, celebrou o presidente.

Lula também chamou atenção dos prefeitos e prefeitas que estavam presentes no evento sobre a alfabetização de crianças até o 2º ano. Cerca de 4,1 municípios brasileiros receberam o Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização por iniciativas realizadas, no último ano, em benefício desse fim.

“A gente quer que cada prefeito assuma a responsabilidade de fazer melhor do que pode fazer. A mesma educação que ele dá para o filho dele, e muitas vezes o filho dele não estuda na escola pública do seu município, estuda numa escola particular. Muitas vezes é assim. Você chega em uma cidade e pergunta, ‘prefeito, como é que está a educação?’ ‘Está maravilhosa. A educação aqui é fantástica’. Aí você pergunta, ‘seu filho estuda na escola fantástica?’ ‘Não’. O filho dele está em uma (escola) particular. Então, esse país não vai estar certo nunca”, concluiu.

Lula, então, acrescentou: “esse país só vai dar certo quando a classe média voltar para a escola pública. E só vai voltar quando ela (a escola) melhorar”. O presidente disse que isso já ocorreu e citou o pensador Paulo Freire como um ‘filho de escola pública”.

“Do tempo que quem podia ir na escola eram poucos. Aí você pode dar qualquer coisa de qualidade quando uma pequena minoria pode estudar. Mas, quando é todo mundo, é preciso um pouco mais de recurso, de dinheiro”, finalizou o presidente, apontando, novamente, para a questão de recursos e inclusão social.

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RJ e SP respondem comunicado dos EUA sobre carnaval: “Ambiente tranquilo”

Os governos de Rio de Janeiro e São Paulo se manifestaram, por meio de notas enviadas ao Correio, sobre o comunicado emitido pela embaixada dos Estados Unidos nesta semana, dando dicas aos turistas norte-americanos que virão ao Brasil no carnaval.

Entre as recomendações estão: “não entrar em favelas”, “tomar cuidado com golpes com drogas”, “andar com a janela do carro fechada” e “não andar sozinho”. O documento ainda afirma que existe falta de segurança no país e ressalta que as dicas são válidas para qualquer estado brasileiro.

O Correio entrou em contato com os governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Distrito Federal em busca de uma manifestação sobre o comunicado.

À reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que o estado registrou o carnaval mais seguro por dois anos consecutivos, em 2023 e 2024, com redução do índice de roubos e furtos.

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“No ano passado, as polícias Civil e Militar realizaram uma força-tarefa para combater os crimes durante os dias de folia. Foram empenhados cerca de 20 mil policiais para garantir a segurança em todo o Estado. A Polícia Civil atuou, de forma inédita, com agentes “infiltrados” entre os foliões, resultando em 54 infratores presos na capital paulista. […] A estratégia também foi adotada pela Polícia Militar. Policiais com trajes civis circularam em meio ao público para observar atitudes suspeitas e prevenir crimes”, explicou a SSP-SP.

A secretaria finalizou que, neste ano, as forças de segurança agirão de forma integrada, “garantindo a tranquilidade e a proteção de todos durante o período”.

Já a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro (Sesp) disse ao Correio que tem alcançado “resultados excepcionais na garantia de segurança” em grandes eventos, como o show de Madonna, em maio do ano passado, o Rock in Rio (setembro) e o encontro da Cúpula do G20 (novembro). “Esses eventos, que atraem milhões de turistas, são amplamente elogiados pelos visitantes. A integração das forças de segurança e o uso de tecnologias avançadas garantem um ambiente controlado e tranquilo tanto para a população local quanto para os turistas”, expôs o órgão.

“No Réveillon de 2025, quase 3 milhões de pessoas se reuniram para celebrar, e o sucesso da segurança foi garantido pela mobilização de 28 mil agentes em todo o estado. Em Copacabana, 3.300 policiais – 12% a mais que no ano anterior – asseguraram a ordem durante a queima de fogos, com o apoio de tecnologias de ponta. O Centro Integrado de Comando e Controle Móvel (CICCM) desempenhou um papel essencial, permitindo a coordenação por meio de imagens em tempo real transmitidas por drones e câmeras, possibilitando uma resposta rápida e eficiente”, continuou.

A Sesp finalizou evidenciando o investimento de R$ 4 bilhões em segurança pública realizado pelo governador do estado, Cláudio Castro, o que “tem garantido a modernização dos recursos e a implementação de ações estratégicas que asseguram a ordem pública e promovem uma significativa melhoria na qualidade de vida da população”.

Os governos de Pernambuco, Bahia e Distrito Federal não responderam ao contato. O espaço segue aberto para possíveis manifestações.

O passado rico da cidade mineira que se tornou polo de ‘exportação’ de imigrantes ilegais aos EUA

Bem antes de ganhar fama nacional como “exportadora” de brasileiros na década de 80, Governador Valadares, cidade de 279 mil habitantes localizada a 315 km de Belo Horizonte (MG), registrou ainda nos anos 60 seus primeiros moradores que decidiram emigrar para os Estados Unidos.

Foram 17 jovens que, com visto legal para trabalhar, deixaram a cidade para viver o sonho americano.

Ganhar dinheiro, naquela época, não era a principal motivação da viagem: nascidos em famílias de classe média alta, os jovens tinham o segundo grau completo, falavam inglês e eram atraídos pela curiosidade de conhecer um país que consideravam rico, desenvolvido, culturalmente interessante e cheio de grandes oportunidades.

Desde que aquelas primeiras pessoas emigraram, Valadares se transformou até os dias de hoje em um dos principais polos de migração — tanto a legal quanto a ilegal — do país.

Dados do censo demográfico de 2010 colocam a cidade na sétima posição entre os dez municípios brasileiros com maior número de emigrantes internacionais, com um total de 8.800 emigrantes no exterior.

O perfil dos emigrantes, no entanto, mudou bastante desde os anos 60: se antes os primeiros a deixar o país pertenciam a famílias abastadas e entraram nos EUA com visto e documento legalizados, a partir da segunda metade da década de 80 quem partia para tentar a sorte nos EUA tinha em grande parte o ensino fundamental completo (36%), entrou nos Estados Unidos pela fronteira do México ou Canadá (51%) e, em parte dos casos, usando documentos falsos (10%).

Os dados são da pesquisadora Sueli Siqueira, titular da Universidade Vale do Rio Doce no campus de Governador Valadares. Dedicada a estudar os efeitos da migração sobre os mineiros que vão para os EUA e retornam ao Brasil, ela entrevistou e organizou em uma pesquisa os depoimentos dos primeiros valadarenses a emigrarem.

Em 1960, Valadares já tinha uma escola de inglês, que viabilizou os primeiros intercâmbios estudantis para os EUA. Com eles, em uma época em que essa era uma oportunidade restrita às capitais do país, valadarenses de classe alta iam passar um ou dois anos estudando fora. Quando voltavam, encantavam a cidade com as histórias sobre as maravilhas da vida na América.

Atualmente, os Estados Unidos endureceram a política de imigração e intensificaram batidas e operações em busca de migrantes sem documentos desde a chegada ao poder de Donald Trump, em 20 de janeiro.

Sonho americano

O primeiro intercambista de Valadares, segundo as pesquisas de Siqueira, foi para a cidade de Dumas, no Texas. Sua viagem e estadia foram noticiadas amplamente no jornal local, sempre enfatizando as benesses de se viver em um país desenvolvido.

O jovem logo percebeu, e espalhou a notícia por meio de cartas, que no país havia oportunidades para os amigos que quisessem trabalhar e estudar de maneira legal. Quando o primeiro intercambista voltou, todos queriam saber da experiência.

“Quando cheguei fazia fila na minha casa para ver o álbum de fotografia e para eu contar como era a vida lá. Durante muitos meses eu não consegui falar de outra coisa, meus amigos só queriam ouvir sobre a vida lá”, disse um dos primeiros intercambistas, que viajou para estudar em 1963, em entrevista concedida 50 anos depois à especialista.

Para a pesquisa “Histórico das migrações da Região de Governador Valadares para os Estados Unidos”, Siqueira entrevistou em 2010 os primeiros emigrantes que viajaram para trabalhar nos EUA, recuperando seus relatos sobre a realidade da época e reconstruindo o contexto histórico em que esses primeiros 17 emigrantes valadarenses deixaram o país.

As entrevistas realizadas por Siqueira dão ideia do fascínio que, desde então, os EUA exerciam sobre a população da cidade.

“Eu tinha um sonho de conhecer a Broadway. Quando eu cheguei perguntei onde era a Broadway e disseram que eu estava nela, fiquei muito emocionado. Também tive sorte de morar na Rua 42 bem no centro de New York”, afirmou um dos valadarenses, que emigrou em 1964 e foi entrevistado, 50 anos depois, para a pesquisa da professora.

“Toda vida a situação financeira da minha família foi boa, quando resolvi emigrar a família me chamou de doido, falou que eu era aventureiro. Ninguém sabia, mas eu queria ir para lutar na guerra do Vietnã. Todas as notícias que chegavam mostravam a aventura que era aquela guerra”, afirmou outro entrevistado, que foi embora para trabalhar nos Estados Unidos em 1967.

Mas por que, em tempos em que grande parte da população brasileira era analfabeta e rural, uma cidade pequena no interior de Minas Gerais já tinha intercambistas, escolas de inglês e tantas conexões com a vida nos EUA? E por que anos mais tarde, quando a década de 80 ficou conhecida como a “década perdida” por sucessivas crises econômicas, tantos valadarenses migraram para os EUA, em vez de partir para as grandes metrópoles brasileiras? A resposta, segundo Siqueira, envolve fatores que passam por economia e história, tanto de Valadares quanto dos Estados Unidos.

A primeira família americana

‘Mister Simpson’, engenheiro que firmou residência em Governador Valadares com a família nos anos 1940

Em 1942, um americano conhecido como Mister Simpson foi um dos engenheiros que se mudaram para Governador Valadares, localizada na região do Rio Doce, no leste de Minas Gerais, e em meio à Mata Atlântica.

Ele veio para trabalhar na ampliação da Estrada de Ferro Vitória a Minas, entre Vitória e Belo Horizonte. Quando as obras terminaram e todos os engenheiros voltaram para os EUA, Mister Simpson decidiu permanecer na cidade junto com a família. Continuou trabalhando como funcionário da então Vale do Rio Doce e viveu em Governador Valadares até sua morte, em 1969, segundo Siqueira.

A convivência com o grupo americano, desde aquela época, introduziu um contato com a cultura que ficou impregnado no “DNA” valadarense. “Foi um evento que ficou na memória popular”, diz Siqueira, em entrevista à BBC News Brasil.

“Nesse período da presença deles houve um desenvolvimento na infraestrutura, na saúde. E, ainda na década de 40, os moradores de Governador Valadares tiveram acesso ao dólar. Os depoimentos relatam que era engraçado porque eles tinham torradeira, máquina de lavar roupa, eles trouxeram tudo isso. Era um pequeno grupo vivendo o estilo de vida americano em uma cidade pequena.”

Depois do fim das obras, Mister Simpson e sua esposa, Geraldina Simpson, ficaram em Valadares e decidiram abrir uma escola de inglês, a Ibeu. A instituição também aparece com destaque nos relatos dos primeiros jovens que emigraram para trabalhar nos EUA entrevistados por Siqueira.

“Tinha um programa da dona Geraldina Simpson que era de intercâmbio. O Coelho foi o primeiro e quando ele retornou me deu informações sobre os EUA, que se eu conseguisse o visto de trabalho pra lá que não teria problema nenhum. Trabalharia vinte horas e estudaria numa escola normalmente e o que eu ganhava dava para me sustentar o mês todo sem problema. Aqui em Governador Valadares tinha eu, e outros três que queriam ir. Conseguimos o visto de trabalho e partimos”, afirmou um entrevistado, que emigrou de Valadares em 1964.

Foto do casal Simpson publicada no Diário do Rio Doce, em 1964, sobre a chegada dos dois a Valadares

“A ideia de ir para os EUA ficou mais atraente. Assim que fez o intercâmbio estudantil nos EUA ele me passou as informações que eu precisava: que era a de que lá conseguia sobreviver e que era possível emigrar para lá com o visto de trabalho e não ter problema. Não decidimos emigrar por questões financeiras, fomos mais pelo desejo de conhecer e estar em mais contato com a música americana, que era nossa paixão”, diz um outro entrevistado, que emigrou em 1964.

No mesmo ano, mais amigos do primeiro intercambista tomaram o mesmo rumo. Chegaram a Nova York sem nenhum contato, mas tinham as informações sobre onde se hospedar e conseguir trabalho.

“As cartas, acompanhadas de fotos, eram enviadas com frequência. Elas relatavam as oportunidades e maravilhas da terra, difundindo, assim, a grande aventura que era emigrar. Estes foram seguidos por outros 14, todos com visto de trabalho. Todos falavam inglês, tinham o segundo grau completo e pertenciam a famílias das classes mais abastadas da cidade”, diz o estudo da pesquisadora.

“Esses dezessete primeiros jovens emigraram com visto de trabalho e se constituíram nos pontos iniciais do movimento migratório de Governador Valadares para os EUA e deram origem a um fluxo migratório, aumentando consideravelmente a presença de brasileiros nos Estados Unidos”, diz.

A partir de 1966, segundo a pesquisadora, os relatos demonstram que poucos foram os que conseguiram visto de trabalho, tanto pelo alto custo do depósito exigido quanto por negativa do consulado, e o visto de turista passou a ser o mais utilizado.

“Na segunda metade dos anos 1980, a negativa do visto de turista atingia a maioria dos que desejavam migrar. Crescem então as alternativas: passaporte montado (falso) e a travessia pela fronteira do México”.

A formação dos laços sociais consolidados ao longo das décadas tornava, para muitos valadarenses, migrar para os Estados Unidos mais fácil e familiar do que mudar-se para uma capital como São Paulo, por exemplo.

A busca pelos vistos de turista estimulou uma espécie de “indústria de serviços” para ajudar nessa tarefa. Passam a existir na cidade agências de turismo que organizam a documentação, informam como proceder na hora da entrevista, como se vestir, fazem o agendamento e oferecem transporte terrestre até o consulado.

Estudos de Sueli Siqueira realizados em 2009 apontam que 89% dos emigrantes entrevistados por ela retornaram ao Brasil na mesma situação em que se encontravam quando chegaram aos Estados Unidos, ou seja, continuavam indocumentados. Em grande parte, eram emigrantes que estiveram nas cidades de Nova York, Miami e Boston.

“No final dos anos de 1990 e início dos anos 2000, observa-se uma mudança deste quadro — os mais pobres também passam a migrar, financiados pelos emigrantes da região que se estabeleceram e montaram algum tipo de negócio demandando mão de obra. São negócios de faxina, pintura e construção civil ou comércio étnico. Estes proprietários financiam a passagem a ser paga com trabalho.”

Também influenciaram essa conexão Valadares-EUA, segundo Siqueira, a existência de um mercado de trabalho secundário no país de destino, de trabalhos menos qualificados, desprezado pelos trabalhadores americanos devido ao baixo status e baixa remuneração, mas atrativo para o emigrante.

Além disso, ela pontua o efeito do desemprego e da queda no poder aquisitivo da classe média a partir do fim dos ciclos de prosperidade econômica nos anos 60.

Por que engenheiros americanos estavam em Valadares?

As obras na estrada de ferro que trouxeram Mister Simpson a Valadares eram necessárias porque, na ocasião, o município vivia um boom demográfico e econômico. A estrada de Ferro Vitória a Minas, construída em 1910 para transportar toras de madeira e sacos de café, foi reformada quando teve início a partir da década de 40 também a exportação de minério de ferro.

Nos anos 30 e 40, uma das estrelas da economia valadarense tornou-se a exploração de mica, matéria-prima que era empregada na indústria bélica

Nos anos 30 e 40, uma das estrelas da economia valadarense tornou-se a exploração de mica, matéria-prima que era empregada na fabricação de materiais elétricos e instrumentos de precisão, tornando-se muito necessária para a indústria bélica durante a 2ª Guerra Mundial.

A produção, destinada quase exclusivamente aos Estados Unidos, foi ampliada consideravelmente, tornando-se um negócio altamente lucrativo, que empregava milhares de pessoas.

A exploração do solo e do meio ambiente valadarense aqueceu a economia e acelerou o crescimento da pequena cidade. Em 1940, a população de Governador Valadares era de 5.734 habitantes; em 1950 chegou a 20.357 habitantes e, dez anos depois, atingiu a cifra de 70.494 habitantes, segundo o pesquisador Haruf Salmen Espíndola, doutor em história econômica e professor da Univale em Governador Valadares.

“Entre os outros fatores que aceleraram o povoamento, destaca-se a decisão do governo brasileiro, em 1942, de exportar o minério de ferro de Itabira, (a 200 km de Valadares) em grande escala. Essa decisão resultou na criação da Companhia Vale do Rio Doce”, diz estudo do pesquisador.

Sob coordenação e financiamento dos Estados Unidos, a ferrovia foi totalmente reformada. Sob tutela americana também foi erradicada a malária, que era a maior dificuldade dos povoadores e ameaçava a atividade exploratória. Foram criados serviços especiais de saúde, que previam a implementação de saneamento básico e assistência médica.

“Na área de expansão urbana ficava a lagoa do Sapo, que servia de bebedouro para as boiadas e constituía-se num dos maiores focos do mosquito transmissor. A eliminação da lagoa do Sapo somente foi conseguida vencendo a enorme resistência dos que a utilizavam. Seu fim significou um grande alívio para a população urbana”, explica Espíndola.

“Era comum ver nas ruas de Governador Valadares o triste espetáculo de doentes definharem pelo chão.” Havia também grande incidência de leishmaniose e esquistossomose na região.

O fim da riqueza valadarense

A partir de 1960, a produção de mica despencou; ao fim da década, a produção já era bastante irrisória. O refluxo da atividade extrativa da mica teve consequências sérias para a economia local, com redução do número de empregos do setor, que despencou de cerca de 3.000 pessoas, no início dos anos 50, para cerca de 500 empregos, no início dos anos 60.

Além dos empregos diretos, a queda da demanda atingiu fortemente as centenas de famílias que trabalhavam a mica em suas próprias casas.

O perfil predatório das atividades da região do Rio Doce, que deixou poucas alternativas à medida que os recursos foram se esgotando, também contribuiu para o fim do período de expansão econômica em Valadares.

“O crescimento econômico e demográfico nas décadas de 40 e 50 foi baseado na exploração dos recursos naturais. Entretanto, a devastação da floresta e o esgotamento dos solos provocaram retração econômica e esvaziamento demográfico regional, repercutindo estruturalmente sobre a cidade”, afirma o pesquisador Espíndola.

O esgotamento dos recursos naturais exigiu dos empresários maiores investimentos de capitais para se obter ganhos de produtividade, porem a opção do capital foi migrar, segundo o estudo. “Restou a imagem da antiga prosperidade fixada na paisagem: nas ruínas das serrarias, das antigas usinas”, diz Espíndola em artigo sobre a formação da cidade.

Ao longo dos anos 60, as empresas e investidores do setor madeireiro foram migrando principalmente para o norte do Espírito Santo e sul da Bahia.

A região de Valadares, de polo de atração e crescimento, converteu-se, gradativamente, em reservatório de mão-de-obra para a indústria e trabalho doméstico. A população passou a mudar-se para outros Estados em busca de novas fronteiras agrícolas e centros industriais em crescimento. Com isso, a cidade foi perdendo o dinamismo populacional e econômico.

Hoje, Governador Valadares possui diversos dilemas de magnitude considerável, segundo o pesquisador: escassez de capital, abundância de mão-de-obra, baixa qualificação da força de trabalho e graves problemas ambientais, especialmente a degradação do solo e o assoreamento dos rios, em função do histórico predatório.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a cidade tem salário médio mensal de dois salários mínimos, e 35% da população vive em domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa.

Foi nesse ambiente que muitos valadarenses, em busca de melhores oportunidades, emigraram ilegalmente e acabaram deportados, como mostrou outra reportagem da BBC na cidade.

“Os anos 70 foram de incomparável crescimento econômico de Minas Gerais, com índices superiores a 10% ao ano. Nesta década, contrariamente, a região do Rio Doce teve índice negativo de crescimento, com a população regional reduzindo-se em 0,14% ao ano.”

A região que foi considerada a “terra da promissão”, passou a ser mencionada nos documentos oficiais, a partir dos anos sessenta, como “região problema”.

* Essa reportagem foi publicada originalmente em março de 2020 e atualizada em fevereiro de 2025

Procura por resorts all inclusive cresce em 2024 e projeta interesse recorde para 2025

Procura por resorts all inclusive cresce em 2024 e projeta interesse recorde para 2025 (Secrets Playa Blanca Costa Mujeres (Foto: Hyatt Inclusive Collection))

O setor de turismo está vivendo um renascimento impressionante. Após os anos desafiadores da pandemia, os dados econômicos do último ano não apenas demonstraram que o mercado recuperou os números anteriores, mas também apresentou um crescimento impressionante. O mercado, que faturou cerca de 11,1 trilhões de dólares globalmente, observou um aumento no número de turistas internacionais de cerca de 11% em relação ao ano anterior. O setor de hotéis, resorts e cruzeiros também registrou um crescimento significativo, com o faturamento saltando de US$603,44 bilhões em 2023 para US$701,14 bilhões em 2024.

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No Brasil, o cenário é igualmente positivo: o país recebeu mais de 6,65 milhões de turistas estrangeiros, um aumento de 12,6%. O valor gasto por esses turistas no país somou US$6,62 bilhões, a maior cifra registrada nos 11 primeiros meses do ano desde 1995.

Um dos setores que mais se destacou no último ano foi o mercado de resorts all-inclusive. A Fora, uma das principais agências de viagens do mundo, reportou um aumento impressionante de 324% nas reservas de marcas all-inclusive mais procuradas em 2024. De acordo com um relatório recente do Expedia Group, as buscas no Hotels.com com o filtro “all-inclusive” cresceram 60% em comparação ao ano anterior. Esse crescente interesse promete atingir novos patamares em 2025.

Existem alguns fatores que podem explicar esses números de sucesso: o primeiro é o crescimento das viagens em família, um público tradicional dos resorts all-inclusive. Um estudo realizado pela Skift aponta que as viagens em família estão se consolidando como uma das principais tendências dos últimos anos. Cerca de 42% dos entrevistados indicaram que seu principal motivo para viajar é fortalecer laços e criar memórias compartilhadas com a família. Nesse quesito, os resorts se destacam ao oferecer experiências que agradam a várias gerações, desde atividades recreativas para os pequenos até passeios relaxantes e culturais para os mais velhos. Outro ponto decisivo para atrair famílias é a praticidade: realizar todas as atividades em um único local, com conforto e segurança, é um grande atrativo.

O segundo fator que impulsionou o crescimento do setor é a diversificação dos perfis de viajantes. Embora as viagens em família continuem sendo o ponto forte do setor, há um aumento significativo de solteiros em busca de novas conexões menos digitais e grupos de amigos. Além disso, a Geração Z está se destacando como um novo público-alvo deste tipo de hospedagem. A Expedia Group revelou que 42% dos entrevistados da Geração Z afirmaram que resorts all-inclusive são seu tipo de hospedagem preferido, superando qualquer outra geração.

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Por último, houve uma a percepção dos viajantes de uma certa evolução dos resorts all-inclusive, desde seu auge no mercado de massa nos anos 1980. Em 2024, o modelo excessivo de bebidas e buffets deu lugar à alta gastronomia em restaurantes sofisticados; resorts genéricos foram substituídos por propriedades com design arquitetônico marcante, integradas ao contexto cultural do destino; e as aulas de hidroginástica cederam espaço a experiências personalizadas de bem-estar e para a alegria dos hóspedes, o conceito manteve sua maior vantagem: o conforto de um pagamento único antecipado, eliminando surpresas no check-out.

Atentas a essa crescente demanda, marcas de hospitalidade como Marriott, Hyatt, Hilton e Rixos têm liderado uma onda de inaugurações de resorts all-inclusive, sinalizando um foco renovado nesse setor. A Hyatt, que no ano passado bateu um pipeline record de 138000 quartos e é líder no segmento, vem expandindo consistentemente seu portfólio all inclusive ao longo da última década. Esse movimento incluiu o lançamento de marcas como Hyatt Ziva e Hyatt Zilara, além de investimentos em destinos menos explorados, como a costa búlgara do Mar Negro. Para 2025 a marca projeta um aumento de reservas nas Américas em torno de 20% apenas no primeiro semestre deste ano.

“Para 2025, nossa linha planeja estrear em dois novos destinos: Santa Lúcia e Aruba . Também vamos inaugurar o Hyatt Vivid Punta Cana o segundo hotel da marca Hyatt Vivid Hotels & Resorts que oferecendo um resort à beira-mar com 500 quartos somente para adultos. Além disso, a Hyatt Inclusive Collection está de olho no mercado brasileiro e busca investidores para lançar o primeiro hotel da marca no país, consolidando sua estratégia de expansão na América Latina. O Brasil é uma oportunidade promissora para expandir nosso portfólio” destaca Antonio Fungairino, Head de Desenvolvimento das Américas da Hyatt Inclusive Collection.

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As redes hoteleiras têm intensificado os investimentos em resorts para tornar a experiência dos hóspedes mais atrativa e envolvente. Tecnologias inovadoras, como concierges virtuais equipados com inteligência artificial, estão transformando a interação com os clientes, oferecendo recomendações personalizadas e suporte em tempo real. Além disso, os resorts estão diversificando suas ofertas de lazer, apostando em atividades imersivas na cultura local, festas exclusivas, atividades em parceria com marcas de luxo e também nas mais recentes tendências de bem-estar, que incluem biohaking, camas com monitoramento de sono, tratamentos com oxigenio.

Em um mundo repleto de opções de serviços, conteúdos de viagem e destinos, planejar férias tornou-se uma tarefa mais complexa e, muitas vezes, sobrecarregante. Diante dessa abundância de escolhas, os resorts all-inclusive emergem como uma solução ideal para quem busca relaxamento total e conforto, sem abrir mão de vivenciar experiências locais ricas e autênticas.

Essa combinação de conveniência e personalização tem impulsionado o mercado de resorts, que registrou um faturamento recorde de US$ 211,9 bilhões e projeta alcançar US$ 280,71 bilhões até 2029, refletindo o crescente interesse dos viajantes por este segmento.

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