Programas de Nunes e Boulos para São Paulo são ambos irrealizáveis

Os programas de governo de Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) os colocam como Tattoo e sr. Roarke, anfitriões da famosa “Ilha da Fantasia”, recepcionando os eleitores.

Ambos os programas são fictícios, irrealizáveis, considerando os três pilares básicos: orçamento, cronograma no mandato e capacidade da máquina pública para implementá-los, conforme a descrição.

Nunes e Boulos têm muito em comum nessa taumaturgia.

Não há metas mensuráveis, passíveis de avaliação —ou seja, não há compromisso com o que se enuncia.

Meta é um objetivo (expresso por uma ação), mais uma quantificação (número do que se executará) e prazo (quando será entregue).

Os programas tratam de abstrações, que exprimem um conjunto de intenções baseado em vontade política, em pensamentos desiderativos, conhecidos como “wishful thinking”.

No orçamento, os candidatos confundem, propositalmente, valor total, o que ilude e aparenta “caber tudo”, com os recursos para investimentos, que embora volumosos, são bem menores.

Benefícios e serviços novos advêm da verba de investimento, cerca de 15% do orçamento total que inclui custeio, em São Paulo. Custeio é dinheiro para manutenção do que já existe. E, cada investimento efetuado, transforma-se em custeio no ano seguinte. Constrói um hospital, depois é preciso mantê-lo, e assim vale para tudo.

Não há cronogramas para que se conheça aquilo que será entregue no mandato e o que virá além dele.

Terceiro ponto: a máquina da prefeitura não está capacitada, tanto em treinamento, como em equipamento para realizar a miríade de promessas. Hábitos novos exigem conhecimento específico, treinamento e meios.

Em suma, os programas são irrealizáveis na totalidade, considerando os três fatores.

Da parte de Nunes, especificamente, observa-se uma proposta com quatro eixos confusos, que se subdividem em 18 tópicos, que, por vezes, se sobrepõem.

Nunes aproveita bem o fato de ser incumbente e faz a propaganda do que realizou, sempre na base de números, sem entrar na qualidade do que foi efetuado. Fala em dez vilas Reencontros para moradores em situação de rua, mas, escapole de que o número cresceu com relação ao censo de 2021. Aborda o Aquático, travessia na represa Billings, todavia sem explicar que foi uma concessão sem licitação à empresa investigada no transporte.

O programa é ufanista e cuida mais do invólucro do que do conteúdo.

Nunes baseia as propostas, significativamente, em parcerias públicos-privadas, para acentuar o aspecto “direitista”, porém não esclarece se os interesses privados nelas contidos estão alinhados com os interesses públicos e se a máquina entrega a respectiva parte.

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Pietro Verri (1771), economista milanês, destacou que os interesses privados só trazem felicidade se alinhados aos interesses públicos.

Boulos faz 119 propostas, sem somar os custos, além de se propor a não esquecer as outras cerca de 5.000 recebidas e parte maior do elenco. Cabe tudo.

Fala em eficiência do uso do dinheiro público sem explicitar a forma. Soa como: “deixa comigo, que eu sou bonzinho”.

Eficiência cuida de como fazer melhor com os mesmos recursos. Mistério. A palavra é utilizada como uma chave para o paraíso.

Boulos procura imprimir um ar de batalha contra o obscurantismo direitista, quando isso já caducou com as ações do governo federal diante do “Brasil unido e pacificado”, não consagrado até agora.

Boulos acusou Nunes de viver numa São Paulo paralela, irreal. Incorre no mesmo vício.

Ambos nos remontam à utopia de Thomas More, uma República imaginária governada pela razão. Em estilo irônico.

Os programas, que vivem a febre atual de resolver todas as coisas de forma singela com um nome idílico, que “mata” o problema com uma coronhada da vontade e nos remetem ao Jardim Edênico da “Visão do Paraíso” de Sergio Buarque de Holanda, com relação às terras do Novo Mundo.

Temos nomes cuidadosamente publicitários e desejos. As políticas públicas de verdade vão sofrer de orfandade.

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