As ambições da China de se tornar uma força no mercado automotivo europeu ficaram claras esta semana no Salão do Automóvel de Paris, onde um número recorde de montadoras chinesas revelou modelos elétricos de ponta, apesar da recente decisão da União Europeia de impor tarifas anti-subsídios sobre seus veículos.
No evento, destinado a mostrar as principais montadoras europeias, os estandes que atraíram as maiores multidões foram os de empresas como BYD, Leapmotor e Xpeng, que exibiram a rapidez de seus avanços tecnológicos — incluindo o uso de inteligência artificial — para competir ou até mesmo superar seus rivais europeus na revolução dos veículos elétricos.
A Europa tem a ambiciosa meta de transitar completamente para veículos elétricos até 2035, e as maiores montadoras do continente — entre elas Renault, Stellantis, BMW e Volkswagen — apresentaram novos modelos visando atrair consumidores europeus. No entanto, Pequim também está ansiosa para participar desse jogo, com nove montadoras chinesas no salão de Paris parecendo não se abalar pelos que veem como esforços protecionistas para desacelerar seu avanço.
A BYD, que estreou na Europa no salão há dois anos, exibiu sete modelos, que, segundo seus executivos, utilizam tecnologia elétrica e híbrida que supera a dos seus concorrentes europeus.
No estande da BYD, um grande vídeo exibia marcos ao redor do mundo, desde o Cristo Redentor no Rio de Janeiro até o Arco do Triunfo em Paris. Foi um lembrete visual da ambição da empresa de tornar seus carros atraentes para os consumidores ocidentais.
Em poucos anos, a BYD expandiu sua presença além da China para 100 países. Nos primeiros seis meses deste ano, um quarto de todos os veículos híbridos ou totalmente elétricos vendidos no mundo foram fabricados pela BYD, afirmou a empresa.
“Isso é incrível”, disse Stella Li, vice-presidente executiva da BYD, aos repórteres no evento, que vai até o fim de semana.
Ela criticou as tarifas impostas por Bruxelas este mês sobre veículos elétricos da China como injustas, uma reclamação ecoada por outras montadoras chinesas.
As tarifas, que entram em vigor em 31 de outubro e permanecerão por cinco anos, chegam a até 45%. No entanto, tanto autoridades europeias quanto chinesas disseram que estão em negociações para alcançar um acordo que resolva as preocupações de Bruxelas sobre as vantagens injustas das montadoras chinesas.
Li afirmou que a empresa continuará sua expansão na Europa, trazendo um novo SUV para o mercado na França e na Alemanha. A empresa também informou que está reduzindo o preço de modelos já à venda na Europa, uma estratégia que muitas montadoras chinesas têm adotado para atrair consumidores.
O CEO da Renault, Luca de Meo, reconheceu a crescente concorrência que os europeus enfrentam das montadoras asiáticas. Ele lançou uma linha de novos veículos elétricos compactos, incluindo um feito com 90% de materiais renováveis, o que ele chamou de “um manifesto para a inovação tecnológica”.
A nova linha provavelmente gerou o maior entusiasmo em torno de qualquer montadora europeia no evento. Ela foi “projetada para enfrentar os desafiantes do Oriente” e superá-los “se possível”, disse ele aos repórteres.
O desafio para as montadoras europeias é formidável. A Europa enfrenta uma queda na demanda por novos carros, com as vendas gerais este ano cerca de 18% abaixo dos níveis pré-pandemia, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis. As vendas de veículos elétricos estão caindo ainda mais, representando apenas cerca de 12% do mercado este ano.
Em um gesto de solidariedade com as montadoras francesas, o presidente Emmanuel Macron fez uma aparição no evento e passou algum tempo no estande da Renault, assumindo o volante de um dos novos modelos híbridos da empresa. Macron disse que queria “mostrar apoio ao setor”.
Mesmo assim, algumas montadoras reconhecem que o desafio imposto pelas montadoras chinesas não desaparecerá. Em vez de lutar contra elas, a Stellantis, dona das marcas francesas Peugeot e Citroën, além da Jeep e Chrysler nos Estados Unidos, uniu forças com a Leapmotor, uma das principais fabricantes de veículos elétricos da China.
A Stellantis comprou cerca de 20% das ações da Leapmotor no ano passado. As duas empresas também criaram uma joint venture, que dá à Stellantis acesso à tecnologia da empresa chinesa. Em troca, os carros da Leapmotor terão acesso a cerca de 200 concessionárias da Stellantis na Europa.
Carlos Tavares, CEO da Stellantis, descreveu a parceria como uma em que “ambas as empresas estão prontas para se beneficiar”.
Ele acrescentou que “o interesse de nossos concessionários e investidores é palpável, e o mercado está faminto por veículos elétricos tecnológicos e acessíveis”. A longo prazo, a colaboração entre as empresas europeias e chinesas “visa transformar o cenário da mobilidade elétrica na Europa e além”.
Ao lado de Tavares, o CEO da Leapmotor, Jiangming Zhu, falou em chinês ao descrever um veículo elétrico construído pelas duas empresas que seria acessível e atraente para os gostos e necessidades dos consumidores europeus.
O modelo compacto da joint venture terá um preço inicial de pouco mais de US$ 19.600, um preço milhares de dólares abaixo de modelos de veículos elétricos europeus semelhantes.
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